Como revelou a própria empreiteira Odebrecht, em suas delações premiadas, o esquema de fraudes em
licitação e pagamentos de propinas vigora no Brasil a mais de 30 anos. Neste meio tempo, conseguiu
agradar grande quantidade de “goelas famintas”. Em uma lista de centenas de ex-presidentes,
governadores, senadores, deputados federais e ministros, o Estado de Mato Grosso não poderia estar de
fora. A terra da Sodoma, da Arqueiro e da Castelo de Areia possui 13 representantes na “Operação Lava
Jato”. Conheça-os:
Abastecimento, o agrônomo Blairo Borges Maggi, conhecido no esquema como “Caldo”. Considerado
braço forte do presidente Michel Temer, ele é acusado de ter recebido R$ 12 milhões da Odebrecht via
“caixa 2” para financiar sua campanha ao governo do Estado em 2006. Maggi venceu aquela disputa e
hoje nega com veemência que essa quantia tenha entrado na conta de sua campanha. Em entrevista à
rádio na manhã desta terça-feira (18), disse estar chateado em ter que responder por esse tipo de
acusação.
“Lamento que meu nome tenha sido incluído numa lista de pessoas citadas em delações da Construtora
Odebrecht, sem que eu tivesse qualquer possibilidade de acesso ao conteúdo para me defender. Me
causa grande constrangimento ter minha honra e dignidade maculadas, numa situação na qual não sei
sequer do que sou acusado. Mesmo assim, gostaria de esclarecer que: 1. Não recebi doações da
Odebrecht para minhas campanhas eleitorais; 2. Não tenho ou tive qualquer relação com a empresa ou
os seus dirigentes. 3. Tenho minha consciência tranquila de que nada fiz de errado”.
Eder Moraes:
Para os delatores da Lava Jato, a captação dos R$ 12 milhões via “caixa 2” para Maggi não teria sido bem
sucedida não fosse uma participação importante, a do ex-secretário de Fazenda Eder de Moraes Dias.
Segundo as delações, teria sido ele o responsável por intermediar o esquema. Mesmo sendo réu em
inúmeras outras ações penais na Justiça Federal de Mato Grosso, já tendo, inclusive, sido condenado a
69 anos de prisão em uma delas, Eder recebeu “a notícia (de sua acusação) com surpresa”
Luiz Antônio Pagot:
Outra figura que teria dado suporte a execução de pagamentos de propina em prol de campanhas
eleitorais de Maggi seria o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(Dnit), Luiz Antônio Pagot. Ele teria intermediado as negociações para recebimento de propina do Grupo
Odebrecht, a fim de viabilizar à reeleição do agrônomo.
Pagot nega. “Nunca tratei deste assunto, isso é certeza. Eu fui coordenador geral das campanhas, não
financeiro. Acredito que este assunto nunca foi tratado por ninguém envolvido diretamente nas
campanhas. Também não acredito que o Blairo tenha tratado disto. Se houve alguma coisa, Blairo foi
passado para trás”, asseverou ao Olhar Direto.
José dos Santos, João Virgílio do Nascimento Sobrinho e Francisco Gomes de Andrade Lima Filho:
Celeridade na liberação de créditos à Odebrecht. Essa teria sido a oferta feita pelo ex-secretário de
Fazenda de Mato Grosso Edmilson José dos Santos e pelos ex-procuradores do Estado João Virgílio do
Nascimento Sobrinho e Francisco Gomes de Andrade Lima Filho. “Cofrinho”, “Careca” e “Manhoso”,
respectivamente, seriam os apelidos dados aos três, segundo os delatores. Em troca da celeridade do
processo, a empreiteira deveria pagar R$ 330 mil para cada um. Os valores teriam sido pagos entre 2006
e 2007, na gestão do ex-governador Blairo Maggi.
valores, mais rápido seria o encontro de contas com o governo federal. Na sequência, teríamos direito a
receber esses valores”, relatou o delator.
Valdebram Padilha:
Outra figura mato-grossense revelada pelas delações da Odebrecht já estava, por certo tempo, fora dos
holofotes, o ex-tesoureiro de campanha do PT em Cuiabá Vandebram Padilha. Ele também é dono de
uma empreiteira no interior de Mato Grosso e foi responsável pela campanha de Alexandre César a
prefeitura de Cuiabá em 2004. Padilha teria ficado à cargo de comprar um dossiê contra José Serra
(PSDB) em 2006, em favor de Aloizio Mercadante, que na ocasião disputava as eleições ao governo do
Estado de São Paulo com o tucano. Para obtenção dos documentos, seria aplicado dinheiro oriundo de
lavagem de dinheiro entre Odebrecht e a cervejaria Itaipava. O esquema, entretanto, falhou e o
“aloprado” foi preso em flagrante pela Polícia Federal (PF) em um quarto de hotel com US$ 109,800 mil e
mais R$ 758 mil em dinheiro.
Pedro Henry:
Ainda que longe dos holofotes políticos, outra personalidade do Estado que sempre marca presença nas
editorias policiais é o ex-deputado Federal Pedro Henry. Ele foi citado em dois momentos distintos na
“Operação Lava Jato”. O político teria atuado no suposto esquema de fraudes e propinas instalado na
Petrobras, entre os anos de 2004 e 2014. A ação, proposta no dia 30 de maio, pediu devolução de mais
de R$ 2 bilhões aos cofres públicos, perda dos cargos, suspensão dos direitos políticos e descontos nos quantias ilícitas ainda enriqueciam o Fundo Partidário do PP e garantiam a eleições de novos membros
para o esquema.
Em outro momento, o ex-deputado federal foi citado na delação premiada do ex-funcionário da
Odebrecht José de Carvalho Filho. Conforme o delator, no ano de 2004, Henry teria pedido R$ 2 milhões
em propina para atuar em favor da aprovação de emenda à Medida Provisória 183, que reduzia a zero a
alíquota de impostos na importação e comercialização de fertilizantes e defensivos agrícolas. A propina,
entretanto, não foi paga e mesmo assim a emenda foi aprovada no Congresso. Narra o delator que um
almoço marcou o fracasso da negociação da propina. “Chegando lá Pedro Henry me fez uma solicitação
estapafúrdia. Ele me pediu que pagasse naquela tarde R$ 2 milhões. Impossível, inviável, não há a menor
possibilidade”, teria respondido Carvalho Filho, conforme narrou o próprio aos procuradores do Ministério
Público Federal (MPF).
Questionado por Olhar Jurídico, o advogado de Pedro Henry, Ricardo Almeida, garantiu que “vai ficar
comprovado que ele não tem absolutamente nenhuma participação nos eventos ali. (Não participou) de
forma alguma. Não recebeu (dinheiro ilícito) e ele tem como provar isso. Ele não fazia mais parte da
cúpula do PP. Ele já estava há muito tempo afastado da cúpula do partido. Então, ele não tem nenhuma
responsabilidade sobre as imputações ali mencionadas”, afirmou no último dia 10.
Questionado sobre o motivo de Pedro Henry ter sido denunciado no esquema. O advogado explica.
“Sabe o que acontece? O ex-deputado Pedro Henry de fato, até determinado período, foi líder do partido.
Realmente, tinha liderança no PP. Mas, em um determinado momento essa liderança dele no PP foi Candidato à prefeitura de Cuiabá em 2012 e ao governo do Estado em 2014, o ex-vereador pelo PT, Lúdio
Cabral (o “Ema”) foi o primeiro nome do Estado a ser citado na “Operação Lava Jato”. Segundo Benedicto
Barbosa da Silva Júnior, o BJ, que era diretor da Odebrecht Infraestrutura, Lúdio Cabral teria recebido
R$ 1 milhão a título de propina da Odebrecht para financiar sua campanha em 2014.
Em resposta ao Olhar Jurídico, a defesa de Lúdio Cabral, feita pelo advogado José Patrocínio, negou
veementemente que tenha havido “Caixa 2” da empreiteira na campanha do petista. “De forma
nenhuma houve caixa 2”, declarou. No último dia 12, Lúdio declarou desconhecer o teor das acusações
contra ele. Nesta terça-feira (18) a defesa segue alegando desconhecer.
Assis Raupp:
Segundo o jornal Estadão, o ex-prefeito de Colniza Assis Raupp (PMDB) aparece na delação da Lava
Jato. Seu apelido seria “São Francisco”. Segundo o ex-diretor da Odebredcht Henrique Serrana do Prado
Valadares ele teria recebido dinheiro de propina a pedido do seu irmão, senador Valdir Raupp (PMDB-RO).
Valdir Piran, Janaína Riva e José Geraldo Riva Júnior:
Os três últimos citados da “Lava Jato” compõem uma mesma acusação, são eles o empresário do ramo
de factoring Valdir Piran, a deputada Estadual Janaína Riva (PMDB) e seu irmão José Geraldo Riva
Junior, ambos filhos do homônimo ex-deputado Estadual.
Ramo de factoring Valdir Piran.
Segundo investigações do Ministério Público Federal (MPF), algumas das empresas de Funaro seriam de
fachada e que serviriam apenas para promover lavagem de dinheiro. “Interessante apontar que a conta
da Viscaya Holding e Participações (uma das empresas de Funaro), assim, recebeu R$ 300.000,00 de
Valdir Agostinho Piran e, depois, repassou a mesma quantia para Floresta Viva, empresa de José Geraldo
Riva Junior e Janaína Greyce Riva”, afirma o procurador-geral, Rodrigo Janot.
Em sua defesa a deputada estadual disse que quem administra a empresa é seu pai, o ex-deputado
José Geraldo Riva, logo, “todas as operações são assinadas por ele”, disse Janaina em nota ao site
MídiaNews, que revelou o inquérito. Já a defesa de Valdir Piran informa que relacionou-se com Funaro
quando comprou dele uma Lamborghini e que toda a documentação comprova a licitude de seus
negócios.
Em defesa da deputada, o advogado Rodrigo Mudrovitch emitiu nota: “Falo pela Deputada Janaína
apenas na qualidade de advogado da família Riva, pois ela não precisa de advogado criminal. Ela não é
investigada nesse inquérito. Apenas o pai dela é. Ele está colaborando com o MPF na investigação. Além
disso, esse inquérito não integra a operação Lava Jato. É importante que esses dois equívocos não
sejam mais propagados”.